Dona Maria (1780 D.C - 1825 D.C)

Recebendo a denominação de D. Maria I, o mobiliário está mais intimamente ligado à arquitetura, embora, dado o conservadorismo da rainha, o rococó se manteve em Portugal até ao final do século. Chegaram a Portugal alguns exemplares de móveis de Sheraton, que era francês de origem e inglês por adoção. Sheraton foi um revolucionário no duplo sentido: porque lutou com Maret e Robespierre e também por modificar a linha dos móveis do seu tempo. Foi Sheraton o criador dos móveis simples e de linhas retas, que no Brasil e em Portugal formaram o estilo D. Maria I. Seu período em Portugal e no Brasil é de 1780 a 1825.

Não existiu aqui um centro de fabricação desse mobiliário. Encontramos em todo o país peças do estilo e podemos tentar classificar tais móveis, em certas regiões brasileiras, a nosso gosto.

Em Pernambuco, por exemplo, encontrávamos móveis D. Maria I com características especiais: seus filetes, mais largos do que nas demais regiões, e o sabor regional sempre presente - cajus, abacaxis embutidos nos espaldares das cadeiras e nas frentes e tampos de mesas, flores holandesas, tulipas embutidas, em ramos, onde boninas e margaridas se abraçam num buquê, o que pode ser visto nas cabeceiras das camas. Já na Bahia vamos encontrar camas com pássaros e flores embutidos, e amarrando seus talos, fitas que formam laços exagerados, de pontas caídas. Nas cômodas, flores entrelaçadas são muito complicadas. As talhas só vão aparecer como guarnição das cabeceiras das camas de encosto sextavado. Nestas, guirlandas de folhas e flores vão aparecer entrelaçadas, bem ao gosto da época. Essas talhas, em madeira pura ou dourada, só aparecem nas camas portuguesas e nas de origem baiana. Em Minas Gerais, o mobiliário D. Maria I aparece bem simples. O jacarandá, tão usado nas outras regiões, é às vezes substituído pelo vinhático: seus embutidos são mais simples e seus filetes mais ingênuos. No estado do Rio de Janeiro, notadamente na cidade de Campos é que vamos encontrar peças deste estilo, esplendorosamente bem feitas: são camas com ricos embutidos de flores, pássaros e fitas entrelaçados em proporções excelentes e cômodas com marchetaria; cadeiras perfeitas, onde embutidos excepcionais guarnecem os seus encostos. Frutos e flores aparecem nas madeiras de tonalidades as mais diversas.

É no estado do Rio que se encontram muitas peças valiosas no estilo Maria I. As principais características para identificação são: a presença de cavilhas ( pequenos bastões de madeira usados no lugar dos pregos), inclusive o encaixilhamento conhecido como “rabo de andorinha” e o brilho, ou alto brilho, obtido através da fricção de álcool com pedra-pomes em pó e friccionado com pedra-pomes em pedra mesmo. A madeira ficava lisa e adquirindo um brilho intenso, e amaciava-se. Depois de bem seca, uma leve mão de verniz, feito com goma-laca e álcool, para fixar o brilho conseguido com pedra-pomes e obter um brilho mais intenso, semelhante a um espelho.

Depois de 1825, o estilo entra em decadência e aparecem então atributos de gosto Império: leques, espelhos de marfim para fechaduras, pontos de marfim nos cantos dos puxadores de madeira, guarnecendo cômodas da linha D. Maria I, cujos pés, outrora lisos, vão sendo substituídos por bolachas. Este novo estilo, classificado erroneamente como D. Maria I, nada mais é do que o verdadeiro estilo Império, brasileiro.

Dona Maria é uma mescla de estilos, inspirada nos móveis ingleses, o rococó de D José e também Luís XV e Luís XVI. Aparece uma mistura com grinaldas de flores, fios de pérola, laços de fita, palmas aquáticas e junquilhos. Mobiliário de características neoclássicas. As formas e as técnicas simplificam-se em relação aos estilos anteriores. As linhas e curvas cedem passo às rectilíneas ou são muito menos pronunciadas quando conservadas. Os braços dos assentos só ligeiramente se curvam enquanto que as pernas são sempre direitas. As madeiras mais usadas são o mogno e a nogueira. Empregam-se também madeiras nobres, no seu tom natural, como o pau-santo e pau-cetim.